Para os estrangeiros, Portugal continua a ser um destino de eleição para comprar ou arrendar casa. O clima ameno, a qualidade de vida, a segurança e as atividades de lazer que o país oferece encantam quem passa por aqui. E, depois, há ainda programas e regimes fiscais desenhados pelo Governo, que atraem estrangeiros e nómadas digitais a viver no nosso país e até a investir numa casa em troca de autorização de residência. A isto soma-se, o custo de vida mais baixo face ao seu nível de rendimentos, bem como os preços dos imóveis residenciais, que apesar de terem escalado nos últimos anos e serem cada vez mais inacessíveis para as famílias portuguesas, continuam a ser, por vezes, inferiores aos valores registados nos países de origem.
A verdade é que nem a pandemia (que mudou os critérios de procura de casa), nem a guerra na Ucrânia – que está a reduzir o poder de compra e está a subir os juros no crédito habitação – arrefeceram o interesse dos estrangeiros em comprar casa no nosso país, desde vários pontos do globo, como do Brasil, EUA ou França. E prova disso mesmo é que o peso médio da procura internacional das 20 capitais de distritos portugueses fixou-se em cerca de 27% tanto no final de 2019, como no final de 2022. E no mercado de arrendamento registou-se ainda uma maior procura internacional em dezembro de 2022 (32%) do que antes da pandemia (24%), sendo o Brasil o principal mercado responsável por esta dinâmica, apontam os dados do idealista.
Procura de casas para comprar por estrangeiros: como variou por zona?
Embora a procura internacional de casas para comprar tenha estabilizado a nível nacional, houve 12 capitais de distrito onde esta procura subiu e oito cidades onde desceu entre 2019 e 2022. Foi no Funchal onde o crescimento foi mais expressivo (9,5 p.p), passando a representar cerca de 50% do total da procura de casas nesta cidade em dezembro passado. Os estrangeiros também ganharam interesse por comprar habitações situadas em Leiria (3,8 p.p) e em Coimbra (3,5 p.p). Já em Portalegre e em Beja foi onde a procura internacional de casas mais desceu.
Além da capital madeirense, a procura de casas desde o mercado externo é bem expressiva em Ponta Delgada, representando 40% do total em dezembro de 2022 (de notar que 60% da procura é nacional). Também em Faro, em Viana do Castelo e em Bragança uma em cada três pessoas que procuram adquirir habitação é de origem estrangeira. Por outro lado, Beja, Évora e Coimbra são as cidades do país que parecem atrair menos os estrangeiros para comprar casa, de acordo com os mesmos dados do idealista.
E quais são os países de origem dos estrangeiros que procuraram casa para comprar no final de 2022?
As habitações à venda nas 20 capitais de distrito portugueses estão na mira dos cidadãos dos mais diferentes países. Os mais ativos são mesmo os mercados brasileiro, norte-americano e os francês, revelam os dados.
- Em Lisboa, os estrangeiros representaram 21% do total da procura de casas para comprar em dezembro de 2022 (+0,9 p.p face ao final de 2019). Aqui a procura é sobretudo sentida pelos norte-americanos, brasileiros e espanhóis;
- No Porto, uma em cada cinco pessoas que procura casa para comprar era de origem estrangeira (+0,6 p.p. face a 2019). Na cidade invicta, quem procura mais casas são os cidadãos oriundos do Brasil, EUA e Espanha.
- Em Faro, a procura internacional representa 36% do total (+2,5 p.p. do que antes da pandemia). E na capital algarvia quem procura mais casas para comprar são os alemães, britânicos e norte-americanos.
O que tem, afinal, Portugal de tão especial para atrair cada vez mais estrangeiros a comprar casa no país?
Os dados mais recentes do INE sobre os preços das casas mostram que os estrangeiros pagam cerca de mais 50% pelo metro quadrado das casas do que os portugueses. E as motivações que os levam a comprar casa em Portugal são várias. Alguns procuram uma segunda habitação – para viver, passar férias ou até mesmo numa perspetiva de investimento – onde podem usufruir da qualidade de vida, da gastronomia, das praias e das paisagens que Portugal oferece. E muitos tiram partido dos regimes fiscais para estrangeiros que existem no país, com o regime de residentes não habituais, vistos para nómadas digitais e o programa vistos gold – ainda que o Governo esteja a estudar o fim das autorizações de residência por investimento.
Mas muitos estrangeiros também procuram viver num ambiente de paz, refugiando-se da instabilidade política, social e económica que se tem instalado em vários países pelo mundo, como é o caso do EUA, Brasil, Reino Unido e dos países que vivem próximos no conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia. Além disso, “o cenário de guerra atual trouxe vários clientes russos, que fugiram ao regime, e igualmente ucranianos, por verem em Portugal um porto seguro para as suas famílias”, tal como referiu Rafael Ascenso, CEO da Porta da Frente Christie’s, em entrevista ao idealista/news.
Arrendar casa em Portugal: procura é dominada por cidadãos brasileiros
Há cada vez mais cidadãos estrangeiros a procurar casas para arrendar em Portugal. Os dados do idealista confirmam esta tendência: a média da procura internacional das 20 capitais de distritos passou de cerca de 24% em dezembro de 2019 (antes da pandemia) para 32% no final de 2022 (+8,2 p.p). De notar que, ainda assim, os cidadãos que residem em Portugal continuam a dominar a procura de casas para arrendar, um mercado que sofre especialmente com a falta de oferta de habitação.
A procura de casas para arrendar por estrangeiros aumentou em 19 das 20 cidades portugueses analisadas pelo idealista/news entre o final de 2019 e o final de 2022, tendo esta subida sido mais expressiva em Ponta Delgada (+19,1 p.p.), no Funchal (+19 p.p.) e no Porto (+11,6p.p.). No mercado de arrendamento português, a subida da procura internacional foi menos pronunciada em Beja, Portalegre e em Faro. E só mesmo em Vila Real é que a procura de casas para arrendar por parte de clientes estrangeiros estabilizou entre estes dois momentos, relevam os mesmos dados.
E quais são as capitais de distrito portuguesas onde há maior interesse dos estrangeiros para arrendar uma habitação? De acordo com os mesmos dados relativos ao final de 2022, é no Funchal, em Viana do Castelo e em Bragança, onde os cidadãos estrangeiros mais procuram casas para arrendar, pesando 49%, 43% e 42% no total da procura em cada cidade, respetivamente. Já Portalegre, Évora e Beja são as cidades que sentiram uma menor procura internacional no mercado de arrendamento no final de 2022, muito embora represente entre 20% e 23% do total.
Enquanto no mercado de compra e venda a procura de casas seja proveniente de cidadãos estrangeiros das mais variadas nacionalidades, no mercado de arrendamento o mesmo não se observa. Salta à vista que a procura de casas para arrendar é sobretudo dominada pelo mercado brasileiro, que ocupa o primeiro lugar da procura internacional em 18 capitais de distrito. As únicas exceções são o Funchal (onde são os cidadãos alemães que mais procuram casas) e Ponta Delgada (onde o interesse de arrendar casa surge, sobretudo, por parte dos norte-americanos). O segundo lugar da procura internacional neste mercado é dominado por cidadãos oriundos dos EUA e de Espanha, revelam os dados.
- Em Lisboa, a procura de casas para arrendar por parte dos cidadãos estrangeiros representou 29% do total em dezembro de 2022 (+10,3 p.p. face ao final de 2019). Quem tem mais interesse em arrendar casa na capital portuguesa são os brasileiros, seguidos dos norte-americanos e dos espanhóis.
- No Porto, uma em cada três pessoas que procura casa para arrendar possui nacionalidade estrangeira (+11,6 p.p. face a 2019). Na cidade invicta, são os brasileiros, norte-americanos e os espanhóis que mais procuram casas no mercado de arrendamento (estas nacionalidades coincidem com as registadas no top3 da Invicta para o mercado de compra e venda);
- Em Faro, a procura internacional pesa 38% do total (+3,2 p.p. do que antes da pandemia). Quem procura mais casas para arrendar na capital do Algarve são os brasileiros, espanhóis e os norte-americanos.
Esta análise dos dados do idealista demonstra que os estrangeiros continuam a ter interesse em comprar e arrendar casa em Portugal, apesar do atual contexto económico e político marcado por:
- alta inflação: embora tenha descido para 8,3% em janeiro, está muito acima do nível de estabilização de preços (2%);
- subida dos juros no crédito habitação: está a arrefecer a procura por novos contratos em Portugal e na Zona Euro, a par da perda da confiança dos consumidores e das baixas expectativas sobre a evolução do mercado residencial;
- altos preços das casas para comprar e arrendar: embora o crescimento dos preços no mercado de compra e venda já esteja a desacelerar em metade das grandes cidades portuguesas, segundo o INE;
- polémicas nos vistos gold: além dos atrasos na obtenção da autorização de residência, o Governo de António Costa está a estudar o fim do programa;
A tudo isto soma-se a iniciativa do Bloco de Esquerda, que apresentou recentemente uma proposta de lei que visa proibir os estrangeiros não residentes de comprar casa em Portugal, inspirada numa medida já aplicada no Canadá, na Nova Zelândia, e que está em estudo nas ilhas Baleares (Espanha), com o objetivo de colocar um travão à subida dos preços das casas à venda.
FONTE: Este conteúdo foi originalmente publicado pelo portal imobiliário Idealista.