Jogada de marketing certeira, as casas de 1 euro têm atraído milhares de pessoas para um mercado imobiliário que, até outro dia, estava às moscas. Pudera, não é todo dia que é possível cogitar viver em charmosas cidades históricas pelo preço de um cafezinho.
A história começou na Itália, em vilarejos com problemas crônicos de habitação. Para tentar reerguer a economia, governos locais oferecem imóveis a preços simbólicos, desde que os novos proprietários se comprometam a restaurar, reformar e manter as casas por determinado período. Ou seja, “1 euro” é uma isca irresistível, mas o preço real acaba sendo de muitos milhares de euros. Mas, ainda assim, o investimento pode compensar.
Êxodo rural e envelhecimento da população estão longe de ser problemas exclusivamente italianos, então outros países que sofrem com as mesmas questões também estão tentando lidar com isso de forma semelhante. Os valores mudam (tem casa por menos de 1 euro, aliás), mas a ideia central é a mesma: atrair novos moradores, investidores, nômades digitais, impulsionar a economia, dar um gás no turismo.
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França
Localizada na fronteira com a Bélgica, Roubaix é uma cidade de quase 100 mil habitantes, com museus, prédios históricos, centros de arte e cultura. Mas, nas últimas décadas, ela vem experimentando uma decadência econômica.
Em 2018, a prefeitura começou a vender casas a 1 euro como forma de atrair novos moradores e restaurar propriedades abandonadas. São imóveis de até 126 m², alguns com jardim, mas que demandam um bom investimento para voltar a ser habitáveis — valores estimados em até 179 mil euros, ou cerca de R$ 1,08 milhão. Segundo o jornal francês “Le Figaro”, em março deste ano metade das casas já foi restaurada.
Roubaix é colada na bela Lille, uma das principais cidades do norte da França e carregada de influências flamengas na arquitetura e na cultura. Para além da fronteira, a apenas uma hora de carro, fica Gent, testemunho da riqueza belga na Idade Média.
Croácia
Para a grande maioria de turistas estrangeiros, a Croácia se limita ao litoral. As cidades do Adriático concentram os atrativos mais famosos, mas se enganam aqueles que acham que o interior do país não guarda seus encantos. Varazdin, por exemplo, tem castelo, paisagens bucólicas, muralha e centro histórico com arquitetura barroca.
A 50 minutos dali, Legrad, uma vila próxima à fronteira com a Hungria, está oferecendo casas pelo preço simbólico de 1 kuna, o equivalente a R$ 0,80. Ou seja, muito mais barato do que as já ridiculamente baratas casas de 1 euro da Itália, que saem por uns R$ 6.
Evidentemente, há uma série de fatores a se levar em questão, assim como nas supostas pechinchas italianas. É preciso ter menos de 40 anos, não ter dívidas e se comprometer a manter a propriedade por pelo menos 15 anos (mas não há a necessidade de morar nela). Segundo a agência Reuters, a prefeitura ainda cobre 20% dos custos para reforma e restauração dos imóveis. O resto, cerca de 20 mil euros, fica por sua conta.
Legrad não tem muitos atrativos turísticos, mas o entorno compensa. Além de Varazdin, ela fica a 1h30 da charmosa capital croata, Zagreb. A encantadora Eslovênia também está logo ali.
Espanha
Quando vemos a profusão de gente nas ruas de Madri, Barcelona, Valencia ou Sevilha, fica difícil imaginar que a Espanha tenha um problema populacional. Com a exceção da capital, todos os grandes núcleos urbanos ficam próximos da costa. O interior do país é repleto de vilas parcial ou inteiramente abandonadas.
Mais da metade do território tem uma densidade demográfica menor do que 12 habitantes por quilômetro quadrado, taxa semelhante à do Piauí. Existem cerca de 1,5 mil vilas largadas na Espanha, porque seus moradores migraram para grandes centros ou não têm condições de mantê-las, segundo o site “Bloomberg”.
Isso provocou uma corrida imobiliária. A Espanha, que já é um destino popular entre europeus de países mais ao norte, tem atraído aposentados que buscam viver no calor e em meio à natureza.
Japão
Os problemas relacionados ao envelhecimento da população japonesa são conhecidos. Já são 12 anos seguidos em que o número de habitantes cai: no ano passado, foram 420 mil pessoas a menos, um recorde, segundo o site de notícias “Nikkei”. Em 2018, um levantamento registrou que há 8,5 milhões de imóveis abandonados no interior do país. Há até um termo para isso: “akiya” significa “casa vazia”.
Em algumas províncias, a taxa de vacância é de 18%. Ocupá-las faz parte do grande plano de revitalização das zonas rurais japonesas anunciado pelo primeiro-ministro do país, Yoshihide Suga, que assumiu no ano passado.
Suíça
Influenciada pela política de casas de 1 euro na Itália, a cidade de Gambarogno, no cantão de Ticino, pedaço da Suíça onde o italiano é a língua oficial, resolveu, em 2019, resgatar um vilarejo nos Alpes. No Monte Sciaga, chalés rústicos, alguns em ruínas, foram colocados à venda pela bagatela de 1 franco suíço, pouco menos de 1 euro ou cerca de R$ 5,70, segundo o site de notícias local “SWI”.
Além de desembolsar toda essa grana, o comprador precisa restaurar o imóvel em até três anos, gastando pelo menos 16,5 mil francos suíços (R$ 95 mil). Além disso, é preciso encarar o fato de que o núcleo de casas está completamente abandonado há mais de 40 anos.
Mas há vantagens. A vila oferece vistas impressionantes para o Lago Maggiore e fica a apenas 125 quilômetros de Milão. O Lago de Como, joia das paisagens naturais do norte da Itália, está a 80 quilômetros. Dificilmente você conseguiria ser vizinho do George Clooney pagando menos.
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