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Cidade de Portugal tem milhares de vagas e poucos aparecem para trabalhar

jul 19 2021

Preencher vagas neste verão em Castelo Branco é uma tarefa quase impossível para as empresas da região do interior de Portugal.

Apesar do movimento migratório que mantém 1,6 mil brasileiros no distrito administrativo de Castelo Branco (um aumento de 100% entre 2015 e 2020), entidades sindicais estimam que ainda faltam milhares de trabalhadores para vagas abertas recentemente.

Em 2020, O GLOBO percorreu cidades do interior para acompanhar a nova rota de imigração brasileira. Leia abaixo:

O que mudou em relação ao último ano é que, neste momento de retomada econômica pós-quarentena para conter a pandemia de Covid-19, as empresas voltaram a crescer, abraçaram novos projetos e precisam contratar. Mas não há mão de obra suficiente.

Na multinacional Aptiv, em fase de expansão em Castelo Branco (56 mil habitantes) desde 2020, há 500 vagas e poucas delas teriam sido preenchidas recentemente, segundo representantes sindicais.

A empresa produz componentes elétricos para automóveis e veículos pesados, tem mil funcionários e “importa” uma centena de trabalhadores de municípios vizinhos.

Ao Portugal Giro, a presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB), Ana Palmeira, informou a estimativa inicial e informal do déficit de mão de obra na região: até quatro mil trabalhadores. A direção tomou posse em abril e concluirá um levantamento oficial em breve.

– A Aptiv precisa de 500, outras empresas precisam de outras quantidades e assim por diante. Quando a nova direção tomou posse, começou a mapear com os associados as necessidades atuais para as empresas com plano de desenvolvimento e crescimento. Quantos seriam necessários para a nova realidade? Consigo assimilar alguns milhares, seguramente. Uns três ou quatro mil são um número perfeitamente confortável de imigração para entrar nos quadros das empresas – contou Palmeira.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia (Sindel), Francisco Matias, explicou que a demanda atual está, em parte, concentrada em projetos voltados para a produção de componentes para carros elétricos.

– Atualmente, o que pude verificar, a princípio, junto aos sindicatos, era que iriam precisar de cerca de 1,5 mil pessoas. Desde que começaram novos projetos de carros elétricos. Havia 850 trabalhadores e estamos perto da casa dos mil, atualmente, só em Castelo Branco – disse Matias, ressaltando a presença de jovens brasileiros.

Há 6,7 mil estrangeiros residindo oficialmente na região, sendo 25% brasileiros. Foram atraídos com incentivos para tentar equilibrar o drama demográfico.

Em paralelo ao início da recuperação econômica, a pandemia trouxe consequências que pioraram o balanço demográfico de Portugal. No início deste ano, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou os piores dados de natalidade em 100 anos.

O drama demográfico é impulsionado pela fuga de jovens em idade ativa para as cidades maiores, como Porto e Lisboa, ou para outros países.

– A situação não melhorou. A demografia é um problema que não se resolve de um ano para o outro. Há políticas para atrair jovens, que têm tido resultado. Mas quando as empresas preveem crescimento, estimam assumir uma massa salarial e um número de pessoas que comporte este crescimento. E não haverá até que tenha uma estratégia mais agressiva para incluir um número mais elevado de pessoas que venham morar em Portugal, porque a mão de obra nacional não preenche – explicou Palmeira.

Matias lamenta a falta de um plano concreto de contratação direta em outros países, como o Brasil. E também da ausência de uma política mais ampla de retenção de talentos no território ou de leis mais específicas para o aproveitamento dos desempregados (taxa de 7,2%). Ele lembra que promessas que costumam surgir na esteira das campanhas para prefeito. As eleições municipais acontecerão em setembro.

– Muito foi falado sobre a possibilidade de contratar em outros países, mas não há um plano concreto. As empresas criaram incentivos, bônus de permanência e prêmios – afirmou Matias, descartando a possibilidade de recusas em trabalhar no chamado chão de fábrica:

– Não é tão duro quanto na construção civil. Eu mesmo ainda ando na produção – afirmou Matias.

Para Palmeira, a retomada durante a pandemia de coronavírus pode ser uma oportunidade de mudança no paradigma da contratação internacional. Ela explica que é preciso pensar em estratégias diferentes para cada tipo de perfil e olhar com mais cuidado para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

– A agricultura é distinta da indústria tecnológica. Os trabalhadores não podem ser tratados da mesma forma, porque o recrutamento e treinamento são diferentes entre técnicos e os altamente qualificados. E há de se aproveitar os corredores de interação da CPLP, com relação histórica e ciclos migratórios entre Brasil e Portugal, que ainda continuam com muitos imigrantes vindo para trabalhar – disse Palmeira.

 

FONTE: Este conteúdo foi originalmente publicado pelo O Globo, um jornal diário de notícias brasileiro, fundado em 29 de julho de 1925 e sediado no Rio de Janeiro.

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