Porque investem os estrangeiros em Portugal? E quanto pagam pelo Made in Portugal ou por marcas comerciais portuguesas? Da resposta a estas questões depende em grande medida o país que queremos construir e os postos de trabalho que conseguimos criar.
Portugal tem feito uma trajetória admirável na captação de investimento estrangeiro. A AICEP bateu em 2021 recorde de investimento apoiado (2,7 mil milhões de euros) – o que acontece pela terceira vez em quatro anos – e marcas de relevância e impacto global têm escolhido o nosso país para investir e reinvestir. A Google, a Microsoft, a Cisco, a Repsol, a PSA/Stellantis, grandes corporações nas indústrias das energias renováveis e da fileira do carro elétrico (ex. a BorgWarner) são disso exemplo. Portugal, entrou, em 2020, pela primeira vez, para o top 10 do ranking promovido pela consultora EY das economias da UE que mais captam projetos de investimento direto estrangeiros (IDE).
A par deste fenómeno, as exportações nacionais de bens – que ainda não as dos serviços – em novembro de 2021 já haviam ultrapassado o valor do período homólogo de 2019 (pré-pandemia), superando, pela primeira vez, a barreira dos 30% do PIB.
A resposta central às perguntas enunciadas está em dois elementos fundamentais, nos quais nos temos empenhado, e que vão além dos determinantes geográficos e dos recursos naturais: a qualidade das instituições e dos recursos humanos. Quem nos olha de fora – e quer investir – pensa em rendibilidade e em processos eficientes, num contexto institucional (das administrações públicas e envolvente empresarial) que deve ser estável e previsível, que não consome recursos de forma pouco competitiva e que permite uma boa integração das operações sediadas no território nacional nas Global Value Chains. A fiscalidade empresarial deve ser vista neste âmbito, e não pode ser separada de políticas públicas consequentes e continuadas de apoio ao investimento, que incentivem as exportações e a criação de postos de trabalho qualificados (e mais bem remunerados).
Finalmente, o talento. A reforma estrutural mais importante que executámos entre o fim do século XX e o princípio deste, a profunda alteração no saber-fazer, nas qualificações das gerações mais novas, da matemática ao inglês, ao reforço da competitividade externa das nossas instituições de ensino superior e de investigação científica, a par de um enorme esforço de formação profissional e de clusterização dos processos de inovação intra e interindústria. É assim que se percebe a competitividade de setores onde predominam as PME – com destaque para o calçado, o têxtil e o vestuário, a pedra natural, os moldes, a metalomecânica ou o agroalimentar.
A imagem externa de Portugal tem vindo a ser reforçada, com a perceção de um país de contas certas, com políticas públicas de apoio ao investimento estáveis, com serviços públicos que funcionam e respondem mesmo em momentos de enorme stress. E é indubitável que isso tem vindo a chegar ao salário médio dos portugueses, num quadro em que os investidores estrangeiros e as empresas exportadoras remuneram melhor, em média, o trabalho.
No futuro próximo, se não formos capazes de preservar a estabilidade, ainda que sempre evolutiva, de instituições e políticas públicas, poderemos ver interrompido um caminho de valorização da oferta portuguesa e de atratividade de Portugal como destino de IDE. E, pior, não responder às legítimas expectativas de uma geração que deve ter a oportunidade de encontrar em Portugal o futuro que anseia.
FONTE: Este conteúdo foi originalmente publicado pelo Diário de Notícias, um jornal sediado em Lisboa e fundado em 1864.